Identificação exagerada com princesas pode afetar autoimagem de meninas, mostra estudo

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A obsessão pela beleza inatingível das princesas pode aumentar a vulnerabilidade das meninas (Foto: 123RF)

Outro dia uma foto de uma menina vestida de cachorro quente ao lado de várias amigas ”princesas” circulou pela internet. O motivo do sucesso da imagem, além da fofura, é o fato de ser inusitada. São pouquíssimas as meninas que não passam pela fase “princesa”. Por mais comum que seja, no entanto, a identificação com essas mulheres perfeitas e idealizadas pode ser mais prejudicial para as meninas. É o que mostram alguns estudos, como um da universidade norte-americana de Brigham Young, divulgado recentemente, que aponta que espelhar-se nas princesas da Disney pode tornar as meninas pequenas mais suscetíveis a terem uma imagem negativa do próprio corpo, terem menos confiança e também menos autoestima. “Muitos pais pensam que a cultura das princesas da Disney é inofensiva. Mas o ideal seria os pais realmente compreenderem os impactos dessa cultura das princesas a longo prazo”, alerta a pesquisadora Sarah M. Coyne, autora da reveladora pesquisa que foi entitulada “Bonita como uma princesa: efeitos longitudinais da exposição à cultura das princesas da Disney nos estereótipos de gênero, auto imagem e comportamento social nas crianças”.

Para chegar a essa conclusão, foram analisadas a exposição de 198 crianças em idade pré-escolar à “cultura das princesas” em questão – seja por filmes, bonecas ou merchandise –, que depois associou-se às atitudes das mesmas. Percebeu-se que tal contato levou a um comportamento estereotipado no que diz respeito ao gênero feminino, sendo mais prejudicial para as meninas – os meninos não tiveram a autoimagem prejudicada e chegaram a se tornar mais solícitos.

Brinquedos de menina

A discussão em torno das princesas idealizadas da Disney não é nova. A própria pesquisa acima cita um estudo anterior como ponto de partida, o livro Cinderella ate my daughter (algo como Cinderela engoliu a minha filha, em livre tradução), da jornalista norte-americana Peggy Orenstein, que explica como a obsessão pela beleza inatingível pode aumentar a vulnerabilidade das meninas, mais para frente, a transtornos alimentares, depressão e até comportamento sexual de risco.

Nesse caso, as princesas não são as únicas vilãs. A Barbie, por exemplo, é frequentemente associada à idealização de um corpo feminino irreal e que não representa a diversidade de tipos físicos. Em 2006, um importante estudo foi publicado na revista científica “Developmental Psychology” confirmou o que já se imaginava: meninas que brincam com Barbie tendem a apresentar uma autoimagem ruim e mais desejo de emagrecer. Foi só quando suas vendas caíram em 20% (entre 2012 e 2014) que a Mattel (fabricante da Barbie) se moveu para mudar essa percepção. E, a partir daí, lançou bonecas Barbies com 4 biotipos diferentes (com curvas, baixinha, alta e “original”) e 7 tonalidades de pele, que começaram a chegar ao mercado brasileiro apenas este ano. Dentro dessa “evolução” da marca, como coloca a fabricante, surgiram também as bonecas representantes das mais diversas profissões, de veterinária a bombeiro. Isso porque outro motivo pelo qual começaram a receber críticas é um outro aspecto perverso dos brinquedos “com gênero”: eles tendem a limitar as escolhas profissionais das meninas. E qual o problema disso?

Para começar, os brinquedos que fazem distinção entre os gêneros afastam as mulheres da ciência. É o que demonstra uma pesquisadora de física experimental da Universidade de Cambridge, Athene Donald, vencedora do prêmio LÓreal-UNESCO para mulheres em ciência. Segundo a cientista, não só as Barbies, mas também as panelinhas, as bonecas e a maioria dos brinquedos tidos como de menina “não instigam a criatividade, o senso crítico e o desenvolvimento de habilidades motoras. Pelo contrário, são objetos atrelados à passividade, à vaidade e à subserviência.” Os brinquedos de menino, por outro lado, como os Legos, os jogos de química e as ferramentas geram mais oportunidades para a criança experimentar e ser exposta a brincadeiras que envolvam conhecimentos científicos. “Precisamos mudar a mentalidade dos pais e professores. O problema de como induzimos estereótipos de gênero em nossos filhos começa incrivelmente cedo. Tem gente que acha que o que uma criança faz aos quatro anos é irrelevante para suas escolhas futuras, mas não é“, afirmou Donald, em seu discurso de posse da Associação Britânica de Ciências.

Abaixo às princesas?

Isso não significa que você tem de jogar as Barbie e as fantasias de princesas da sua filha no lixo. “As princesas são modelos de pessoas admiradas. É por isso que as meninas querem ser princesas, porque elas são bonitas e também porque têm poder. Perceba como a maioria das meninas quer ser a Elsa e não a Anna, de Frozen, embora a segunda seja a protagonista”, aponta Patrícia Camargo, autora do blog sobre brincar Tempo Junto. Para ela, a saída é oferecer várias referências às crianças. “Cabe a nós, pais, estarmos próximos a nossas filhas e dar destaque ao que há de bom nessas fantasias, como os valores humanos, tal qual a solidariedade e a amizade, por exemplo”, completa. Assim, a aparência e a postura submissa de algumas dessas personagens ficará em segundo plano. Por último, ela reforça que não podemos ser “ditadoras” dos brinquedos. “Devemos deixar as crianças brincar com o que elas quiserem, sejam princesas ou carrinhos, e também incentivar as brincadeiras sem gênero”. Essa colocação vai ao encontro do que diz Coyne, a autora sobre o estudo da influência das princesas na autoestima: “O caminho é o da moderação. Envolva seus filhos nas mais diversas atividades, para que as princesas sejam apenas uma influência entre muitas”.

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Fonte: itMãe

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