Síndrome de Down em sala de aula

Por  Marília Piazzi Seno

Foto: dseinternational.org

Reconhecer uma criança com Síndrome de Down é fácil, pois entre as características físicas comuns destacam-se hipotonia (diminuição do tônus muscular e da força), hiperextensão articular, fissura palpebral oblíqua e epicanto (prega de pele na pálpebra superior), língua proeminente e fasciculada, microcefalia, orelhas de implantação baixa, mãos largas com dedos curtos, prega palmar única, clinodactilia (desvio) do quinto dedo e baixa estatura. Mas como cada ser humano ainda é único, há outros comprometimentos que dependem de atenção e de trocas de informação com a família do aluno para serem observados em sala de aula, como perda auditiva, disfunção da tireoide, deficiência imunológica, problemas oftalmológicos, cardiopatias congênitas, risco aumentado para leucemias, más formações no trato gastrointestinal, manifestação precoce da doença de Alzheimer etc. Além de todos esses aspectos, de modo geral, a deficiência intelectual também está presente em 100% dos casos e, embora seu grau varie de leve à grave, desde que haja um trabalho conjunto entre escola, professores e pais, dá para estimular o desenvolvimento motor, cognitivo e intelectual dos portadores do cromossomo extra.

Apesar do comprometimento intelectual e da tendência de permanecer por mais tempo no estágio silábico, muitas crianças com síndrome de Down conseguem se alfabetizar. Para tanto, o planejamento das atividades não deve ser feito em função das limitações delas, mas sim com a intenção de explorar habilidades de todas. Consequentemente, a escola precisa:

– Ter uma proposta pedagógica que contemple o planejamento didático-metodológico, com currículo adaptado e recursos diferenciados;
– Implementar ações de parceria com profissionais e serviços de Atendimento Educacional Especializado (AEE);
– Investir na formação dos professores.

Foto: carouselschool.com

A partir daí, considerando que alterações de fala e linguagem oral, comprometimento na memória de curto prazo e nas habilidades motoras finas, dificuldade de organização e sequenciamento de informações trazem, como consequências, um atraso na aquisição da linguagem escrita e leitura, cabe a cada professor:

– Inserir uma rotina em sala de aula (entre outras opções, o ideal é um fazer um quadro de horários, somente para explicar à criança portadora da síndrome a sequência dos acontecimentos, sempre lhe dando o tempo necessário para que assimile e mantenha o combinado);
– Selecionar os objetivos que pretende alcançar, dividindo-os em pequenos passos;
– Verificar os conteúdos e habilidades já adquiridos na pré-escola;
– Certificar-se de que habilidades, como independência e cooperação com colegas, possam ser desenvolvidas;
–  Usar material familiar e significativo (de preferência, abusando sempre do concreto);
–  Implantar repetições e reforços adicionais (o mesmo conteúdo deve ser trabalhado em diferentes contextos e as informações sempre repetidas);
– Escolher o nível de apoio apropriado (cuidador, colega, estagiário etc.);
–  Utilizar abordagem multissensorial (explorando todas as vias de entrada: ver, copiar, fazer, sentir etc.);
–  Falar de uma forma simples e familiar, usando palavras já conhecidas;
–  Assegurar-se de que os significados ou tarefas foram entendidos pela criança;
–  Empregar recursos adaptados como lápis e linhas mais grossas, papéis quadriculados etc.;
–  Pedir à criança, caso seja alfabetizada, grifar a resposta correta para localizá-la mais facilmente (se ainda não alfabetizada, a sugestão é que solicite apenas que complete os espaços com frases curtas em vez de escrever todo conteúdo);
–  Trabalhar com colagem de letras ou palavras prontas para que o portador da condição sequencialize as ideias;
–  Utilizar jogos de computador para que a criança reconheça palavras e as arraste com o mouse;
–  Incentivar o discente a escrever sobre temas de seu interesse e conhecimento;
–  Explicar que nos momentos de copiar da lousa o mais importante é selecionar o conteúdo;
–  Estimular a participação da criança nas diversas atividades desenvolvidas;
–  Apresentar as regras e cobrar padrões adequados de comportamento dos demais alunos da turma.

Foto: Nickspecialneeds.comnet

linguagem entre os portadores de Down
Tida como a capacidade humana para compreender e usar um sistema complexo e dinâmico de símbolos convencionados, a linguagem representa um dos aspectos mais importantes a ser desenvolvido por qualquer criança, inclusive as com síndrome de Down que, por sua vez, ainda apresentam:

–  Atraso para começar a falar ou ausência da fala;
– Vocabulário restrito (com poucas palavras);
– Trocas, omissões ou distorção na articulação das palavras;
– Pausas no discurso ou repetição de sons;
– Produção de frases curtas com estruturação sintática simples;
– Dificuldade de compreensão.

Consequentemente para estimular a linguagem entre elas, é necessário:
– Incentivar o uso da expressão oral;
– Evitar atender solicitações gestuais;
– Escutar calma e cuidadosamente o aluno;
– Fazer contato visual (ao conversar, o ideal é olhar nos olhos do aluno, abaixando-se para ficar da mesma altura dele);
–  Verificar o grau de compreensão do discente;
– Evitar completar frases até que a criança conclua seu raciocínio, dando-lhe o tempo que for necessário para tanto;
– Usar linguagem simples e familiar, além de frases curtas e claras, quando conversar com portadores da condição;

Orientar os pais no sentido de:
a) aproveitar os momentos da rotina (como escovar os dentes, tomar banho, almoçar etc.) para ensinar ao filho novas palavras, preferencialmente, usando material concreto para estabelecer uma associação entre ele e seu respectivo nome.
b) procurar tratamentos e terapias, em especial à estimulação precoce com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo que contribuem significativamente para o desenvolvimento motor, cognitivo e linguístico dos indivíduos, ao proporcionar a eles uma melhor qualidade de vida e desempenho social.

 

Foto: Arquivo Pessoal

Marília Piazzi Seno
Como fonoaudióloga e psicopedagoga, além de atuar na Secretaria Municipal da Educação de Marília, cidade do estado de São Paulo, ela também presta consultoria e assessoria escolar e, nessa condição, sempre nos dará dicas sobre problemas relacionados ao aprendizado infantil. Para contatá-la, envie um e-mail para: [email protected].

Revista Guia do Ensino Fundamental Ed. 141

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