RITA LISAUSKAS, Blog Ser mãe é padecer na internet
Gabriel Lopez, 2 anos
Perguntei para o meu filho, por curiosidade e por querer escrever esse post, o que a amiga dele, Manu, (que tem Síndrome de Down) tinha de diferente.
Samuel e Manu moram no mesmo prédio, estudam na mesma escola, só que em horários diferentes. O cromossomo a mais de Manu, que faz com que ela tenha Síndrome de Down, nunca foi problema para ele. Para o Samuca a Manu é a amiga legal que topa qualquer brincadeira, que adora abraçá-lo e dividir seus brinquedos. Toda vez que ela me encontra no elevador, sempre pergunta dele. Se Samuca encontra o pai ou a mãe da Manu no mesmo elevador, logo vai se convidando para brincar na casa dela.
Gabriele Lomba e Bernardo, 1 ano e 8 meses
Bernardo, quase 2 anos, também é uma criança alegre que adora nadar e está cheio de amigos que, assim como Samuca, não sabem contar direito, muito menos cromossomos (eita conta difícil, essa!). Quando nasceu, sua mãe, a jornalista Gabriele Lomba, 34, percebeu ainda na sala de parto que o filho tinha a Síndrome de Down. Perguntou para a obstetra se sua impressão era verdadeira. A médica, carinhosamente respondeu: “Ele tem sim. E daí?” Claro que a médica sabe contar cromossomos, sabe até explicar que nas pessoas com a Síndrome o tal cromossomo a mais está no par 21 , mas também sabia que o amor de Gabriele e do marido por Bernardo não iria diminuir por causa de algumas dificuldades que o menino poderia contornar e até superar com terapias e amor, muito amor. (Gabriele já contou a história do nascimento de Bernardo aqui no blog.)
Gabriel tem 2 anos e faz sucesso na escola onde estuda, no Rio de Janeiro. Sua melhor amiga se chama Alice, de 3 anos. “Quando ela vê meu filho é um abraça-abraça sem fim”, conta a mãe do menino, a advogada Roberta Castro, 29 anos. O pai de Gabriel, o advogado Gonzalo Lopez, 33 anos, sabe que são os adultos que impõem dificuldades para as crianças com Down. “Criança não vê deficiência. Não enxerga diferença”, decreta.
Manu e Samuca enfrentaram juntos a eliminação do Brasil na Copa. Quer prova maior de amizade que aguentar um 7 x 1?
E é por isso que o Dia internacional da Síndrome de Down, celebrado neste 21 de março, é dedicado a nós, adultos. São os adultos que segregam, que colocam dificuldades quando uma criança com Down quer estudar em uma escola normal, olham torto, rotulam, fazem cara de dó/medo/susto, falam bobagens. E para conscientizar esses adultos que muitos eventos estão programados no Brasil e no mundo.
Lembra a pergunta que fiz pro Samuca? “O que a Manu tem de diferente, filho?” Ele queria muito acertar a resposta, achou que era um quiz. Pensou, pensou, pensou. E me respondeu, ainda em dúvida. “É a franja, mamãe?”
PS: A frase “Amigos não contam cromossomos” foi retirada de uma camiseta confeccionada pelo RJ Down.