A importância dos Pais na vida e crescimento de uma pessoa diferente: a importância de fazermos escolhas e aprendermos desde o momento do nascimento:
Não vou aqui focar o que sentimos quando soubemos que o nosso filho tem T21, uns pais souberam antes do bebé nascer e tomaram a opção de o trazer ao mundo, muitos outros apenas souberam após o nascimento. Mas sem dúvida todos passamos por uma série de fases, mais ou menos dolorosas, mas todas difíceis até chegarmos à aceitação plena do nosso bebé.
O que fazemos com este nosso filho diferente é que vai fazer toda a diferença na vida dele e na nossa. As escolhas são muitas, diárias, mas a nossa postura resume se basicamente a uma de duas opções:
- 1. Termos um comportamento passivo perante a diferença, aceitamos e adoramos este nosso filho com todas as suas limitações, aceitamos que nos digam que o nosso filho tem limitações e que há limites até onde chegar, ajudamos da melhor maneira a criança a funcionar no mundo, tendo sempre presente que ele não é igual aos outros, estamos determinados a proteger os nossos filhos de tudo, de serem vitimizados por um mundo que explora a fraqueza individual. Esta abordagem é fatalista e condescendente.
- 2. Termos um comportamento ativo perante este nosso filho diferente. Esta abordagem é mais otimista sobre as capacidades da criança, diferente das crenças que a sociedade tem sobre as suas limitações e o seu papel no mundo. Esta abordagem acredita em não estabelecer limites prévios, acredita na modificabilidade do cérebro da criança e que com investimento em trabalho, esforço, paciência, consistência e uma enorme capacidade de amor, não há limites para que os nossos filhos podem fazer, e a nossa crença nesse caminho dá-nos a força para continuarmos sempre, por muitos espinhos que encontremos pelo meio.
Por vezes é muito difícil mantermos esta atitude ativa, é nos dito vezes sem conta por profissionais para não esperarmos mais, que há limites definidos por determinados parâmetros e que o nosso filho daí não evolui. Ou seja, que há um “teto” inultrapassável, e que, quando não concordamos somos apelidados de loucos, ou que ainda não aceitamos que temos um filho deficiente.
A atitude passiva, de muitos pais e técnicos, acredita que os nossos filhos são treináveis, após fazerem vezes sem conta a mesma coisa, esta fica “gravada” no cérebro. A atitude ativa acredita que é possível ensinar os nossos filhos a pensar, a raciocinar, sim raciocinar. A aprenderem técnicas para avaliarem informação, a processar, a questionar, a verificarem resultados, em suma a raciocinar! Será essa capacidade que lhes vai dar ferramentas para fazerem escolhas, escolhas essas que lhes vão permitir tomar opções, escolher caminhos, realizarem sonhos, terem uma vida autônoma e realizada. Eles utilizaram essas técnicas dentro da sala de aula, em exemplos do dia a dia, em situações criticas diferentes das para que foram treinados, e onde têm de pensar.
Para os nossos filhos terem uma vida autônoma temos de os ensinar a pensar, e isso faz se desde que nascem. Desengane se quem pense que o processo de autonomia se faz aos 10, ou na adolescência, todas as sementes têm de ser plantas até então.
Este maneira de ver a aprendizagem pode ser utilizada com as diferentes abordagens teóricas ou técnicas a que eles são sujeitos no dia a dia, terapias da fala, desenvolvimento cognitivo, terapia ocupacional ou fisioterapia, não tem a ver com a formação em si, mas em como se passa o conhecimento aos nossos filhos, em como criamos novas sinapses no seu cérebro, no fundo em como pomos a plasticidade do cérebro em ação!
O nosso papel como pais funciona como MEDIADORES — o que faz a diferença não é apenas como se passa a informação, mas o modo como ela é passada. Podemos ver através de vários exemplos a diferença entre uma atitude passiva e uma atitude ativa.
INTERVENÇÃO PRECOCE
#PASSIVA
Pais que poem brinquedos pelo chão para o bebé brincar.
Sabem que o filho apenas diz palavras soltas aos 3 anos, os pais colocam-no no infantário com crianças mais novas, que não falam, para a criança não se sentir frustrada
Sabem que o filho com 3 anos ainda usa fraldas, os pais continuam a utilizá-las e colocam-nos numa sala onde as crianças utilizem fraldas e não sejam ensinadas a larga-las.
“nós percebemos o que o nosso filho diz, já é uma maravilha ele falar”
#ATIVA
Pai que leva o brinquedo ao alcance do bebé, que faz um som e que ajuda a criança a mexer no brinquedo
Sabem que o filho com 3 anos não sabe construir frases, inserem-no numa sala com crianças que saibam falar, sabendo que ela irá beneficiar a interação com modelos.
Sabem que o filho ainda usa fraldas e fazem questão de os inserir numa sala de aula onde se promova o treino das esfinges.
“toda a gente tem de perceber o que o nosso filho diz, não basta sermos os únicos a compreendê-lo”
ESCOLA PRIMÁRIA
#PASSIVA
Pais escolhem escolas onde hajam salas multideficiência e permitem que os seus filhos passem o dia lá inseridos, acreditando que aprendem mais que numa sala de aula e não sofrem de bullying.
Professor dá ênfase apenas a tarefas de aprendizagem concretas.
Professor escolhe ensinar de um modo lento – para toda a turma.
Professor evita ensinar novas matérias, porque é frustrante trabalhar com uma criança diferente.
#ATIVA
Pais escolhem para o seu filho uma escola de ensino regular, onde lhe sejam garantidos os seus direitos a uma total inclusão. Serão feitos esforços no sentido da criança participar no maior numero de atividades comuns.
Professor introduz tarefas concretas e abstratas.
Professor ensina toda a turma à mesma velocidade, tendo especial atenção se a criança com diferenças consegue seguir o que está a ser ensinado – estes precisam de estímulos para evoluírem.
Professor introduz nova matéria de modo à criança com diferença não se sentir frustrada e motivada a trabalhar.
LICEU
#PASSIVA
Professor considera que alunos diferentes devem ser afastados das disciplinas que requeiram treino acadêmico, ser inseridos em salas multideficência, e preparados para executar tarefas meramente vocacionais.
Treinadores envolvem os alunos diferentes em treinos especiais, como para a olimpíadas para-olímpicas.
#ATIVA
Professor não retira o aluno da sala de aula de um programa acadêmico enquanto o aluno estiver motivado e a fazer progressos, ajudando-o a compreender as novas matérias. Na escola vão sendo introduzidas matérias pé vocacionais, que ajudem o jovem a fazer escolhas futuras, não descurando o aprender teórico.
Treinadores envolvem alunos diferentes em todas as atividades desportivas, com os demais alunos.
PERÍODO VOCACIONAL
#PASSIVA
Não pode trabalhar com máquinas – apesar de gostar e querer – porque é muito perigoso.
Tem de fazer tarefas apenas mecânicas, que exijam treino.
Não pode andar de transportes públicos, porque se pode perder, ou ser mal tratado.
#ATIVA
Pode trabalhar com máquinas, se tiver sido ensinado todos os perigos inerentes a esse tipo de trabalho, e se efetivamente se verificar que compreendeu todos os perigos inerentes à tarefa.
Tem de ser ensinado a fazer tarefas intelectuais, aliás se o enfoque na educação prévia tiver tido esse não há razão para que esse caminho lhe seja cortado.
Tem de ser ensinado desde muito novo a pensar, em como reagir a situações novas e imprevistas, de modo a não ser perigoso andar sozinho na rua.
VIDA INDEPENDENTE
#PASSIVA
Não pode andar de autocarro ou transportes públicos porque não sabe contar dinheiro.
É colocado numa instituição a tempo inteiro, ou durante o dia onde executa pequenas tarefas.
#ATIVA
O investimento em se ensinar esse tipo de comportamentos é essencial. A utilização da leitura ou da matemática tem de ser ensinada num contexto prático, não apenas teórico. E o caminho para a autonomia começa desde muito cedo.
É colocado num apartamento com supervisão, onde vai aprender a viver independente – tanto o quanto as suas capacidades o permitam.
Como vai ser o seu papel de Pai?
Está nas nossas mãos fazer esta escolha desde o momento em que os nossos filhos nascem, a legislação portuguesa permite muitas das opções referidas. O caminho não é fácil, surgem muitas dúvidas, mas cada vez mais temos oportunidades de aprender, de fazer diferente, de sermos um veiculo para os nossos filhos sonharem e voarem!
Em próximos temas falarei de como podemos ser MEDIADORES, de como podemos ajudar, através de exemplos concretos os nossos filhos no dia a dia, desde o momento em que nascem, e com essas ferramentas, o que podemos exigir dos técnicos que os acompanham.
Não podemos esquecer nunca que quem melhor conhece o nosso filho somos, nós e que com as ferramentas e o nosso investimento o céu é o limite!
Teresa Duarte Ferreira, Pais21
Baseado na metedologia de Reuven Feuerstein, “If you love me don´t accept me as I am”