O Diário Córdoba, na Espanha, publicou uma entrevista com Pablo Piñeda, primeira pessoa com síndrome de Down da Europa a conquistar o diploma universitário. Confira:
O que a criança com síndrome de Down precisa para desenvolver todo o seu potencial na escola?
Em primeiro lugar, que os pais e professores confiem nela. E então ela tem que ser muito estimulada, de forma constante e com paciência, porque às vezes nós não entendemos as coisas de primeira. E outra coisa importante é que não vale a pena ficar agoniado se preocupando com o futuro , quando o filho estiver sozinho, mas concentrar-se no presente.
Como você foi tratado na escola?
Bem, falamos de uma outra época. Trinta anos atrás eu causei uma revolução porque fui a primeira criança com síndrome de Down a estar numa turma comum e muitos professores mais velhos ficaram relutantes , mas acabei me sentindo feliz, especialmente por estar cercado por outras crianças.
As crianças podem ser muito cruéis com quem é diferente, certo?
Eu discordo . Uma criança vê uma outra e a primeira coisa que faz, naturalmente, é se aproximar para brincar. A crueldade vem dos adultos que lhes ensinam . Lembro-me apenas de uma criança que se metia comigo, Rogelio, que por sinal era muito feio, mas eu não tive nenhum problema porque as crianças da minha turma correram para me defender.
Como foi sua adolescência?
Feliz. Eu sempre gostei das coisas . Não fui nada rebelde, era bom , obediente e estudioso… É que eu não sei me chatear. Me custa horrores.
Você já se sentiu superprotegido por seus pais ?
Nunca. Somos quatro irmãos e sendo uma família grande não podiam me superproteger, que é a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa com síndrome de Down. Eu sempre recomendo às famílias que ofereçam desafios, e não torne seus filhos dependentes.
Você estudou Ensino de Educação Especial, o primeiro europeu com síndrome de Down a ter o título. Por que quis ser professor?
Quando era criança eu queria ser jornalista ou advogado, mas um professor meu , em Málaga , Miguel Lopez Melero, me incentivou a fazer magistério porque ele pensou que eu poderia ser um bom professor. Gosto muito de criança (adoro “The Voice Kids “) e sei como chegar ao seu nível, consigo falar a língua deles.
Foi difícil a faculdade?
É mais difícil provar que você pode fazer faculdade do que fazê-la. Há sempre alguém que não acredita em você , mas o tempo passa e essas mesmas pessoas pensam: “Olha, mas esse parecia bobo . ”
Você se considera uma exceção?
A excepcionalidade em mim não sou eu, mas o que que estava à minha volta, a estimulação e a confiança que tive da minha família, meus amigos … eu não sou nem quero ser a exceção que confirme nenhuma regra. Querer é poder, e as coisas se conseguem lutando até a morte por elas.
Você também fez um filme, Eu também, e ganhou a Concha de Prata por ele, mas não o vimos novamente na tela grande.
Bom, um ator com síndrome de Down só pode fazer um papel, de uma pessoa com síndrome de Down, e eu já tinha chegado ao máximo com esse personagem. Tive uma intuição de que poderiam me rotular e cortei minhas próprias asinhas. Aproveitei muito a experiência e me dei por satisfeito.
Sendo tão famosos, já deve ter tido muitas namoradas.
Eu tenho muitas fãs que gritam Lindo! quando vou a algum festival, mas a síndrome de Down pesa mais do que a fama.
O que você está fazendo atualmente?
Trabalho para a Fundação Adecco , faço palestras nas empresas sobre a inclusão no mercado de trabalho.
Fonte: Diario Córdoba
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