Vamos falar sobre Síndrome de Down?

Artigo

A Síndrome de Down (SD), também conhecida como trissomia do cromossomo 21, é a alteração cromossômica mais frequentemente observada em recém-nascidos, tendo uma incidência de 1 em cada 660 nascidos vivos. Está associada a uma gama de fenótipos e alterações neurofisiológicas, mas a principal e mais incapacitante é a deficiência intelectual. Esse guia foi gerado pela tese de doutorado intitulada “A aprendizagem da Criança com Síndrome de Down no Cotidiano da Escola Regular”, desenvolvida em nível de doutoramento em Educação que teve como objetivo identificar e interpretar possíveis dificuldades e facilidades em situações de aprendizagem vivenciadas no cotidiano escolar da criança com Síndrome de Down no ensino fundamental I. Os resultados apresentados nessa tese sugerem várias ações pedagógicas. São achados que demostram interferências na aprendizagem dessas crianças, como as condições educacionais, as práticas pedagógicas adotadas especificamente a elas, além dos aspectos da dimensão afetivo-social gerando dificuldades na inter-relações pessoais.
Com base nestes achados pontuamos algumas sugestões de estimulação sensório-motora de base e de abordagem pedagógicas para estas crianças.

Possibilidades de estimulação para bebês com Síndrome de Down

A estimulação do desenvolvimento do bebê com Síndrome de Down no primeiro ano de vida é muito importante para a conquista das habilidades motoras básicas, o que consequentemente permitirá sua evolução cognitiva. Ao trabalhar suas potencialidades corporais com a finalidade de expressar uma atividade intelectual, a criança pode demonstrar sua capacidade de cognição por meio da simbolização (FONSECA, 1998, p. 86).
Devemos estimular práticas motoras classificadas como fundamentais no cotidiano dessas crianças, por meio de diferentes vivências corporais, propiciando assim, novas experiências. A partir da variabilidade de direção (para frente, para trás, para o lado e diagonal), diversas alturas de posturas (em pé, de joelhos, sentado e deitado) e ainda variações de trajetórias (linhas retas, zig-zag, circulares) em movimentos de locomoção, de manipulação e de equilíbrio, estaremos favorecendo o aprimoramento das capacidades e habilidades básicas do desenvolvimento motor. Com atividades lúdicas, proporcionadas pela implementação de brinquedos apropriados à faixa de idade da criança, práticas pedagógicas permitirão a estimulação do seu desenvolvimento integral, cognitivo, sócio afetivo e motor.
Nos primeiros meses de vida estimule posturas e posições que favoreçam as conquistas motoras de base como:

1- Deitado de barriga para cima, estimule a ativação muscular de abdominais e pernas com auxilio de mobile

2- Favoreça a posição de barriga para baixo o máximo possível, a criança necessita dominar esta posição para conseguir rolar, arrastar e pivotear.

Dos 2 anos aos 3 anos, a criança com SD pode ser estimulada em sua motricidade grossa com brincadeiras. Entre elas arrastar no chão por baixo de cadeira, passar por cima de uma corda esticada, rolar no chão, puxar e empurrar brinquedos, arremessar bola com as 2 mãos, chutar bola, brincar de estátua, andar em linha reta, correr e parar ao sinal de pare (saber parar de repente quando correndo), subir e descer escada com apoio e avançando o mesmo pé, andar para trás puxando um carrinho, pular com os 2 pés, tentar ficar em um pé só e andar entre obstáculos.


Sugestões para crianças com Síndrome de Down na idade escolar

1- Dirigir-se pontualmente às crianças, no mesmo plano visual, pois isso demonstra ser um procedimento adequado, favorecendo a comunicação e a aprendizagem. Do mesmo modo que certificar-se que a criança está olhando atentamente ao professor é fator preponderante.
2- A imitação intelectual consciente da criança também é caminho para promover o desenvolvimento cognitivo. Brincadeiras com jogos de imitação são positivas para esse fim.
3- Priorizar a colocação da criança em carteiras posicionadas na frente da sala, próximas da lousa e do professor, favorecendo melhor visualização e uma escuta mais apurada das orientações dadas. Isso propicia também um acompanhamento mais próximo do professor em relação às demandas das crianças. Fomentar o respeito dos colegas da turma nas demandas e particularidades apresentadas pelas crianças com SD. Essa atitude contribui para a formação de cidadãos responsáveis, solidários e respeitosos com as diferenças de todos os indivíduos.
4- Estimular atividades motoras e sensoriais, em grupo, para potencializar a atividade intelectual. Atividades desenvolvidas no gira/gira, escorregador, balança, escalada, tanque de areia ou grãos.

Dicas de interação pedagógica

  1. Não avaliar precocemente os conhecimentos da criança com SD, ficar atento e compreender as peculiaridades dos alunos, em todas as suas atitudes.
  2. Ouvir com atenção o que a criança com SD sabe, valorizando o seu conhecimento e as suas interpretações sobre os conteúdos desenvolvidos.
  3. Incentivar a criança com SD a falar em voz alta em sala de aula, para expressar seu pensamento, respeitando os seus limites.
  4. Não limitar o tempo para criança realizar a leitura e a explicação de um texto ou tarefa, permitindo que elas expressem o que aprenderam em seu ritmo próprio.
  5. Reforçar a necessidade da criança cumprir as tarefas diante da sua resistência em participar da atividade proposta, de forma gentil, procurando olhar diretamente em seus olhos, e perguntando o que ela necessita e como é possível ajudá-la.
  6. Pesquisar e preparar material pedagógico diferenciado, sem descontextualizar o conteúdo curricular comum da mesma série e do realizado pelos seus pares em sala de aula, favorece a participação e o envolvimento da criança com SD na dinâmica de aula.
  7. Supervisionar o auxiliar que participa das aulas, que tem o papel de mediar as atividades propostas pelo professor, durante o processo de ensino.
  8. Promover práticas cotidianas, como relaxamento, meditação, palavras ritimadas e acordos prévios, permite que as crianças fiquem mais tranquilas e concentradas nas atividades pedagógicas.
  9. Estimular a independência funcional e incentivar a autonomia nos momentos de lanche, sem dar suporte ou com o mínimo de apoio possível.
  10. Oferecer vários tipos de avaliação, a escrita, as discursivas, avaliações expressas em desenhos ou ainda teatralizadas, para que não aconteça de testar uma pequena parcela das capacidades intelectuais, dando alternativas interessantes as quais permitam que a criança com SD manifeste o conhecimento aprendido da maneira que melhor consegue expressar.

Lilian Pinto Amaral
Fisioterapeuta graduada pela UNIMEP. Mestre e doutora em Educação pela UNISO. Especialista em Tratamento Neuroevolutivo – Método Bobath A. B. F. Formada em Conceito Neuroevolutivo Bobath Advanced Baby Course pela Neuro-Developmental Treatment Association – NDTA/EUA.

Vilma Lení Nista-Piccolo
Licenciada em Educação Física. Bacharel em Fisioterapia. Mestre em Educação. Doutora em Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas. Implantou o curso de graduação em Educação Física e Esporte da Metrocamp (Campinas).

Autoras do livro “Aprendizagem Para Criança Com Síndrome de Down”, publicado pela Wak Editora