Cardiopatias congênitas afetam metade dos recém-nascidos com síndrome de Down

Cerca de metade das crianças nascidas com síndrome de Down apresentam algum defeito no coração ao nascer. Essas má-formações estruturais ocorrem nos três primeiros meses de gravidez, e nem sempre são detectados pelo ultrassom. Somente o ecocardiograma fetal bimensional com Doppler acoresor (ECO) pode determinar com mais exatidão a existência de um problema cardíaco.

Na décima segunda semana de gestação, pode-se medir a translucência nucal através de um exame de ultrassom. Medidas maiores que 3 mm são características de alguns problemas congênitos e, nesses casos, normalmente é recomendado um cariótipo (exame genético) e a realização de ECO fetal.

50% dos bebês com síndrome de Down nascem com problemas no coração.

Principais cardiopatias

Os pacientes com síndrome de Down, geralmente, apresentam cardiopatias congênitas acianogênicas de hiperfluxo pulmonar (shunt equerdo-direito). Isso significa que o defeito cardíaco que começou ainda na barriga da mãe não produz cianose central (arroxeamento da pele) e promove um aumento de fluxo do sangue para o pulmão (hiperfluxo pulmonar).

Os principais exemplos deste tipo de cardiopatia são: comunicação interventricular (CIV), comunicação interarterial (CIA), defeito do septo atrioventricular (DSAV) ou coxim endocárdico e persistência do canal arterial (PCA).

Defeito do septo atrioventricular (DSAV)

Essa é a cardiopatia mais frequente em pessoas com síndrome de Down. Está dentro do grupo de cardiopatias congênitas acianogênicas de hiperfluxo pulmonar (shunt esquerdo-direito); ou seja, não causa o arroxeamento da pele mas leva a um aumento do fluxo sanguíneo no pulmão.

Existem três formas de DSAV: total, intermediário e parcial. Em todas elas há um defeito no coxim endocárdico, que é responsável pela formação das válvulasatrioventriculares (tricúspide e mitral) e fechamento dos septos atrial e ventricular.

No DSAV forma total, temos a presença de uma CIA, CIV, e válvula atrioventricular única com ruptura (cleft) da válvula mitral. Essa associação de defeitos faz com que haja um grande volume de sangue indo para o pulmão e, consequentemente, provoque cansaço e dificuldade para respirar. Com isso, a criança tem dificuldade para ganhar peso e precisa de uma dieta rica em calorias, balanceada e com pouca ingestão de líquidos.

A única forma de corrigir a DSAV é por meio de cirurgia. A operação deve ser realizada, de preferência, entre os 6 e 12 meses de idade, não devendo ser adiada por causa do risco de doença vascular oclusiva pulmonar.

Principais sintomas

Nas cardiopatias congênitas acianogênicas de hiperfluxo pulmonar os principais sintomas são: cansaço durante e depois das mamadas, cansaço para atividades físicas, respiração rápida e difícil, pneumonias de repetição e dificuldade de ganho de peso.

Isso ocorre porque mais sangue vai para o pulmão e com isso há uma sobrecarga de volume e congestão pulmonar. Lógico que a intensidade desses sintomas irá depender do tipo, tamanho, localização do defeito e idade do paciente. Defeitos pequenos ou localizados no septo atrial (por exemplo, CIA) ocorrem com poucos ou nenhum sintoma. Entretanto, defeitos maiores levam precocemente à congestão pulmonar. A idade também altera a manifestação da doença. No recém nascido, como o pulmão ainda está se expandindo, sua pressão é mais alta, limitando o shunt(desvio do sangue) esquerdo-direito; por volta do terceiro mês de vida diminui a resistência pulmonar e o fluxo se torna mais intenso, levando ao aparecimento dos sintomas.

Nas cardiopatias congênitas cianogênicas de hiperfluxo pulmonar (Tetralogia de Fallot) o principal sintoma são as crises de cianose (arroxeamento da pele). Essas crises são desencadeadas principalmente pelo esforço físico, nos casos de anemia, nos processos febris e nos casos de desidratação. São caracterizadas pela coloração arroxeada de todo o corpo da criança e agitação psico-motora.

Ingestão de líquidos

Nos casos com shunt esquerdo-direito (CIA, CIV, PCA, DSAV) devem-se evitar líquidos. Isso porque há maior fluxo de sangue para o pulmão e, se forem ingeridos mais líquidos, mais volume irá para o pulmão e maior será a dificuldade de respirar e o cansaço. Assim, deve-se restringir o consumo de líquidos com poucas ou nenhuma caloria – como chá e água, por exemplo – oferecendo leite no volume orientado pelo médico e cardiologista.

Nos casos de cardiopatias congênitas cianogênicas de hipofluxo pulmonar (Tetralogia de Fallot – T4F) NÃO se deve restringir o consumo de líquidos. É importantíssimo que a criança portadora de T4F esteja sempre bem hidratada e tenha sempre oferta de líquidos. Isso porque a cardiopatia dificulta o fluxo de sangue para o pulmão e é preciso aumentá-lo.

Alimentação

Alimentação rica e balanceada é a ideal para pacientes com síndrome de Down e cardiopatia. Nos casos com dificuldade de ganho de peso é preciso consumir mais calorias. Aconselha-se acompanhamento com nutricionista para os casos mais complicados.

Cirurgia

Nem todas as cardiopatias congênitas precisam de operação. Defeitos simples que não apresentam sintomas muitas vezes corrigem-se por conta própria e não precisam de intervenção cirúrgica. Entre eles estão as comunicações interatriais de localização na fossa oval e as convenções interventriculares mínimas.

O defeito do septo atrioventricular sempre precisa de cirurgia. O ideal é esperar até que a criança tenha entre seis e 12 meses, quando seu peso já está acima de seis quilos e o risco cirúrgico é menor. Mas, nos casos em que é difícil controlar a insuficiência cardíaca, pode ser necessário operar antes disso.

A Tetralogia de Fallot também só pode ser corrigida por meio de cirurgia. Aguarda-se a idade de 6 a 12 meses para realizá-la, sendo feita a correção total do defeito. Nos casos em que há muita crise de cianose com risco de morte, a cirurgia pode ser feita antes disso. Neste caso, a operação é paliativa e chama-se Blalock-Taussig modificado – coloca-se um tubo ligando a artéria aorta à pulmonar, possibilitando maior fluxo sanguíneo para o pulmão. Quando a criança estiver mais velha, é feita a cirurgia para a correção total.

Prática de exercícios

A prática de exercícios deve ser orientada pelo médico. Cada defeito vai permitir um tipo de atividade.

Depois de feita a cirurgia com esternorrafia (corte no meio do peito), o ideal é limitar as atividades físicas por três meses. Essa limitação inclui a possibilidade de fazer exercícios leves, como uma caminhada no plano por 20 minutos, por exemplo. Ficam proibidos esportes de impacto como futebol, basquete, judô, capoeira, etc e esportes com risco de queda, como ciclismo, skate, patinete, etc.

(Fonte: Guia do bebê com síndrome de Down – Dr Zan Mustacchi)

– Leia mais em: http://www.movimentodown.org.br/2013/09/cardiopatias-congenitas-2/#sthash.IGSJL2rb.dpuf

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